24 de jul. de 2012

TODO CAMINHO






Todo caminho da gente é resvaloso.
Mas também, cair não prejudica demais
A gente levanta, a gente sobe,
a gente volta!...
O correr da vida embrulha tudo, a vida
é assim: Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no
meio da alegria,
E ainda mais alegre no meio da tristeza...

João Guimarães Rosa,

in Grande Serão Veredas

23 de jul. de 2012

TAL A VIDA






Em declive trepamos pela nuvem
dos dias — em declive circundamos
obscuros cristais
transportados no sangue— e somos e
levantamos
as cores primitivas da fonte a luz
que resvala corpo a corpo
a semente sazonada de quem roubou
o fogo — em declive canto
a ternura diluída a luz reflectida
neste muro onde vejo
a secreção da fala onde ouço
um caminho de metáforas: tal
a vida —


Casimiro de Brito,

in "Negação da Morte"

20 de jul. de 2012

CASIMIRO DE BRITO






Cuidado.O amor
é um pequeno animal
desprevenido , uma teia
que se desfia
pouco a pouco.Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.

Casimiro de Brito
In Intensidades

12 de jul. de 2012

LYGIA FAGUNDES TELLES







"Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa
e não esta feia ressentida que me olha do fundo
 do espelho.Ouço duzentas e noventa e nove
 vezes o mesmo disco,lembro poesias, dou piruetas,
 sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo
a alegria está instalada em mim." 


Lygia Fagundes Telles
In:As Meninas

11 de jul. de 2012

ALICE RUIZ





Algumas flores
teimam em viver
apesar do peso
apesar da morte
apesar de algumas
que teimam em morrer
apesar de tudo

Alice Ruiz

7 de jul. de 2012

CONFÚCIO






“ Para onde quer que fores,
vai todo, leva junto teu coração. "

Confúcio 

RUMI






''Ontem eu era inteligente,
então eu queria mudar o mundo.
Hoje eu sou sábio,
então eu estou mudando a mim mesmo."

Rumi

6 de jul. de 2012

A UM LIVRO






No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.

Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!

Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! ...

Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! ... Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! ...

Florbela Espanca