22 de mai. de 2009

Camaleão

Foto: Daniel Bezerra
Aqui tem muitas árvores e lagoas, por isso o nome do bairro: Lagoa Redonda. Convivemos com todo tipo de animais, desde cobras e morcegos a esses maravilhosos lagartos. Esse estava em cima do nosso muro, mas já tivemos dentro de casa. Breve postarei o vídeo.

O periquito que pensa que é morcego

Foto: Jevan Siqueira

Brincadeira, mas é muito interessante um periquito australiano dormir como um morcego. E não adianta acordá-lo, ele continua na mesma posição. rsrsrsrs

13 de mai. de 2009

Açude e Orós

Imagem cedida pela nossa amiga Glória Dantas, à esquerda, num passei à ilha do Orós, onde fica uma pousada de propriedade de uma tia do cantor Fagner.

Enchente de 2009

Meus filhos, fazendo turismo pelas águas do Açude Castanhão. Aqui é o nosso quintal. Era uma vez grama! Todo encharcado. A frente da nossa casa. Nesse dia ainda estava bonito. A agua começou a levar o asfalto! E continua levando!

10 de mai. de 2009


Imagem de Jevan Siqueira: Açude Castanhão, Ceará.

Rumor de água

Rumor de água
na ribeira ou no tanque?

O tanque foi na infância
minha pureza refratada.
A ribeira secou no verão.

Rumor de água
no tempo e no coração.

Rumor de nada.

Carlos de Oliveira

Carlos de Oliveira



CARLOS DE OLIVEIRA

Carlos de Oliveira (Belém do Pará, 10 de Agosto de 1921 — Lisboa, 1 de Julho de 1981) foi um escritor português.

Filho de emigrantes portugueses, só viveu no Brasil os dois primeiros anos de vida: em 1923, os seus pais regressam a Portugal, acabando por se fixar na região de Cantanhede, mais precisamente na aldeia de Febres, onde seu pai exercia medicina. Em 1933 muda-se para Coimbra, cidade onde permanece durante quinze anos, a fim de concluir os estudos liceais e universitários. Ingressa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1941, onde estabelece amizade, convívio intelectual e solidariedade ideológica e política com outros jovens, entre os quais Joaquim Namorado, João Cochofel e Fernando Namora.

Em 1942 publica o seu primeiro livro de poemas Turismo, com ilustrações de Fernando Namora, integrado na coleção Novo Cancioneiro e em 1943 publica o seu primeiro romance, Casa na Duna. Em 1944, o romance Alcateia, será apreendido, lançando nesse mesmo ano a segunda edição de Casa na Duna.

Em 1945 publica um novo livro de poesias, Mãe Pobre. Os anos 1945 e seguintes serão, para Carlos de Oliveira, bem profícuos quanto à integração e afirmação no grupo que veicula e auspera por um “novo humanismo”, com a participação nas revistas Seara Nova e Vértice e a colaboração no livro de Fernando Lopes Graça Marchas, Danças e Canções – coletânea de poesias de vários poetas, musicadas por aquele, canções que vieram a ser conhecidas por “heróicas”.

Termina em 1947 a sua Licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, e no ano seguinte instala-se definitivamente em Lisboa, não deixando, contudo, de se deslocar periodicamente a Coimbra e à Gândara. Em 1949 casa com Ângela, jovem madeirense que conhecera na Faculdade, que será sua companheira e colaboradora permanente.

Em 1953 publica Uma Abelha na Chuva, o seu quarto romance e, unanimemente reconhecido como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa, estando integrado nos conteúdos programáticos da disciplina de português no ensino secundário.

Em 1957 organiza, com José Gomes Ferreira, numa abordagem do imaginário popular os dois volumes de Contos Tradicionais Portugueses, alguns deles posteriormente adaptados ao cinema por João César Monteiro.

Em 1968 publica dois novos livros de poesia, Sobre o Lado Esquerdo e Micropaisagem e colabora com Fernando Lopes no filme por este realizado e terminado em 1971, Uma Abelha na Chuva, a partir da obra homónima. Publica em 1971 O Aprendiz de Feiticeiro, coletânea de crônicas e artigos, e Entre Duas Memórias, livro de poemas, pelo qual lhe é atribuído no ano seguinte o Prêmio de Imprensa. Em 1976 reúne toda a sua poesia em Trabalho Poético, dois volumes, apresentando os livros anteriores, revistos, e os poemas inéditos de Pastoral, livro que será publicado autonomamente no ano seguinte. Publica em 1978 o seu último romance Finisterra, paisagem povoada de inspiração gandaresa, obra que lhe proporciona a atribuição do Prêmio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.

Morre na sua casa em Lisboa a 1 de Julho de 1981.



Poesia

* Turismo (1942);
* Mãe Pobre (1945);
* Colheita Perdida (1948);
* Descida aos Infernos (1949);
* Terra de Harmonia (1950);
* Cantata (1960);
* Micropaisagem (1968, 1969);
* Sobre o Lado Esquerdo, o Lado do Coração (1968, 1969);
* Entre Duas Memórias (1971);
* Pastoral (1977).

Romance

* Casa na Duna (1943; 2000);
* Alcateia (1944; 1945);
* Pequenos Burgueses (1948; 2000);
* Uma Abelha na Chuva (1953; 2003);
* Finisterra: paisagem e povoamento (1978; 2003).

Crónicas

* O Aprendiz de Feiticeiro (1971, 1979).

Antologia

* Poesias (1945-1960) (1962);
* Trabalho Poético (1976; 2003).

Brumas


Tela de Pino

Brumas

Nas brumas dos meus silêncios
Nascem visões encantadas,
Com ninfas, bruxas e fadas,
Sonhos de amor, sempre densos.

Nas brumas dos meus silêncios,
Onde os mistérios são nada,
Surgem paixões exaltadas,
Feitas desejos, imensos.

Nascem lembranças, eivadas
De sensações adiadas
E cheiros breves, intensos,

Sem ilusões ansiadas,
Em desespero, guardadas
Nas brumas dos meus silêncios.


Vitor Cintra
De ‘Murmúrios’

Escravo


Tela de Pino

ESCRAVO

Porque te esforças tanto por sorrir
Se, nessa condição de escravizado,
Por mais que seja o esforço redobrado,
Não tens, como horizonte, um bom porvir?

Porque te esforças tanto em ser cortês
Com quem marcou de luto a tua vida,
Sabendo que a maldade, repetida,
Aumenta o sofrimento, vez a vez?

Mantém, dos teus carrascos, a distância.
Não dês, nem reconheças, importância
A quem te escravizou, e ao teu povo.

Aquele que preserva, na memória,
A honra e o valor da sua História,
Verá, um dia, o sol brilhar de novo.

Vítor Cintra
De: ‘Contrastes’

Mostrou-te


Tela de Pino

MOSTROU-TE

Mostrou-te a vida um sorriso
Quando soubeste entender
Que vale a pena viver
Com pouco, além do preciso.

Mostrou-te a vida a beleza
Das coisas simples do mundo,
Cujo sentido é profundo
Dentro da mãe natureza.

Mostrou-te a vida a ternura
Que sempre se faz sentir
Olhando a rosa a florir;

Mostrou-te toda a candura
Que surge, feita bonança,
Nos olhos duma criança.

Vitor Cintra
do livro ‘Murmúrios’

Vitor Cintra



Nasceu em Sintra, a 11 de Janeiro de 1941. Os seus primeiros poemas datam dos anos 50, quando, estudante liceal, descobriu a sua paixão pelas letras. Ainda como trabalhador-estudante foi chamado para serviço militar.



Mobilizado, embarcou para Moçambique e ali cumpriu, como sargento miliciano, de 1963 a 1966. Só após o serviço militar completou a sua formação na área de Contabilidade, sendo Técnico oficial de Contas e residindo atualmente em Mafra.

TÍTULOS PUBLICADOS

Dispersos
Ao acaso
Ecos
Memórias
Recados
Relances
Desabafos
Homenagem
Divagando
Excertos
Momentos
Contrastes
Alegorias
Encruzilhada
Vertigem
À distância
Murmúrios
Horizontes
Pedaços do meu sentir


Obs.: Informações recebidas do poeta por e-mail, em 31.12.2008

a) Os títulos publicados não fazem parte do circuito comercial;
b) O n.º de exemplares de cada uma das edições é de 250 e o seu custo é suportado por mecenas;
c) Os exemplares editados são distribuídos, gratuitamente, por Bibliotecas, Escolas e particulares.

Fonte: Blog do poeta

9 de mai. de 2009

Navio Negreiro


Imagem da Internet, formato rh
O Navio Negreiro
I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

II

Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...

III

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode o olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

V

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

VI

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Castro Alves
In ‘O Navio Negreiro’

Antônio Frederico de Castro Alves, poeta, nasceu em Muritiba, BA, em 14 de março de 1847, e faleceu em Salvador, BA, em 6 de julho de 1871. É o patrono da Cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador Valentim Magalhães.

Era filho do médico Antônio José Alves, mais tarde professor na Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro, falecida quando o poeta tinha 12 anos. Por volta de 1853, ao mudar-se com a família para a capital, estudou no colégio de Abílio César Borges, futuro barão de Macaúbas, onde foi colega de Rui Barbosa, demonstrando vocação apaixonada e precoce para a poesia. Mudou-se em 1862 para o Recife, onde concluiu os preparatórios e, depois de duas vezes reprovado, matriculou-se na Faculdade de Direito em 1864. Cursou o 1º ano em 65, na mesma turma que Tobias Barreto. Logo integrado na vida literária acadêmica e admirado graças aos seus versos, cuidou mais deles e dos amores que dos estudos. Em 66, perdeu o pai e, pouco depois, iniciou a apaixonada ligação amorosa com Eugênia Câmara, que desempenhou importante papel em sua lírica e em sua vida.

Nessa época Castro Alves entrou numa fase de grande inspiração e tomou consciência do seu papel de poeta social. Escreveu o drama Gonzaga e, em 68, vai para o Sul em companhia da amada, matriculando-se no 3º ano da Faculdade de Direito de São Paulo, na mesma turma de Rui Barbosa. No fim do ano o drama é representado com êxito enorme, mas o seu espírito se abate pela ruptura com Eugênia Câmara. Durante uma caçada, a descarga acidental de uma espingarda lhe feriu o pé esquerdo, que, sob ameaça de gangrena, foi afinal amputado no Rio, em meados de 69. De volta à Bahia, passou grande parte do ano de 70 em fazendas de parentes, à busca de melhoras para a saúde comprometida pela tuberculose. Em novembro, saiu seu primeiro livro, Espumas flutuantes, único que chegou a publicar em vida, recebido muito favoravelmente pelos leitores.

Daí por diante, apesar do declínio físico, produziu alguns dos seus mais belos versos, animado por um derradeiro amor, este platônico, pela cantora Agnese Murri. Faleceu em 1871, aos 24 anos, sem ter podido acabar a maior empresa que se propusera, o poema Os escravos, uma série de poesias em torno do tema da escravidão. Ainda em 70, numa das fazendas em que repousava, havia completado A cascata de Paulo Afonso, que saiu em 76 com o título A cachoeira de Paulo, e que é parte do empreendimento, como se vê pelo esclarecimento do poeta: "Continuação do poema Os escravos, sob título de Manuscritos de Stênio."

Duas vertentes se distinguem na poesia de Castro Alves: a feição lírico-amorosa, mesclada da sensualidade de um autêntico filho dos trópicos, e a feição social e humanitária, em que alcança momentos de fulgurante eloqüência épica. Como poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a intensidade com que exprime o amor, como desejo, frêmito, encantamento da alma e do corpo, superando completamente o negaceio de Casimiro de Abreu, a esquivança de Álvares de Azevedo, o desespero acuado de Junqueira Freire. A grande e fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como corrente elétrica, reorganizando-lhe a personalidade, inspirando alguns dos seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores e encantamentos constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poemas.

Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República, devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a antonomásia de "Cantor dos escravos". A sua poesia se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à sua magia. No seu tempo, mais do que hoje, o orador exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e espirituais se encontram na eloqüência dos poetas. Em Castro Alves, a embriaguez verbal encontra o apogeu, dando à sua poesia poder excepcional de comunicabilidade.

Dele ressalta a figura do bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo como realidade presente do que como episódio de um drama mais amplo e abstrato: o do próprio destino humano, presa dos desajustamentos da história. Encarna as tendências messiânicas do Romantismo e a utopia libertária do século. O negro, escravizado, misturado à vida cotidiana em posição de inferioridade, não se podia elevar a objeto estético. Surgiu primeiro à consciência literária como problema social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento humanitário pela maioria dos escritores que até então trataram desse tema. Só Castro Alves estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano.

"Espumas Flutuantes", escrita em 1870; "Gonzaga ou a Revolução em Minas", (1875); "Cachoeira de Paulo Afonso", (1876); "Vozes, D'África" e "Navio Negreiro", (1880); "Os Escravos", (1883), etc. Em 1960 publicou-se sua Obra Completa, enriquecida de peças que não figuram nas Obras Completas de Castro Alves, editadas em 1921.

Castro Alves foi um discípulo de Victor Hugo a quem chamava "mestre do mundo, sol da eternidade". Poeta social, lírico, patriótico, foi um dos primeiros abolicionistas e, ao poetar sobre a escravidão, inflamava-se eloqüentemente, chegando a elevar-se pelo arrojo das metáforas, pelo atrevimento das apóstrofes, pelas idéias do infinito, amplidão, pelo vôo da imaginação, o que motivou o título dado por Capistrano de Abreu de "condoreiro", que comparou sua poesia ao vôo de um condor.

Castro Alves amou o oprimido com sentimento de justiça sendo este o traço básico da sua personalidade. A desarmonia da alma romântica não é produzida, segundo ele, por conflitos do espírito mas por conflitos entre o homem e a sociedade, o oprimido e opressor. É uma nova forma da existência da dualidade romântica do bem e do mal. A sua tese social é trazida muito abstratamente e será o primeiro exemplo de literatura "engage" que se vê no Brasil.

O ideal para Castro Alves é o gênio (homem) símbolo das lutas pela justiça e pela libertação. Vive seu espírito em constantes conflitos à procura de soluções. Esse ideal faz com que o poeta busque na retórica a sua forma de expressão que muitas vezes se apresenta vazia e sem nexo, apoiada apenas em combinações sonoras. Esse abuso é uma influência da época que muito prestigiava a oratória. Um defeito a ser apontado no seu estilo é o abuso e a superposição de imagens e de aposições. Porém, alcança um belo sublime, bem distante das banalidades românticas.

Enquanto outros poetas como Gonçalves Dias, tomam o índio como herói, tomou Castro Alves o negro, nada estético, tido como de casta inferior na sociedade, sem nenhum valor mítico. O índio foi um herói bem mais fácil de ser forjado, pois existia apenas como mito, não participava da sociedade e tinha valor heróico, por causa da sua tradição guerreira. Assim, o negro, em Castro Alves, é quase sempre um mulato com feições e sensibilidade de um branco. O amor será tratado como um encantamento da alma e do corpo e não mais como uma esquivança ou desespero ansioso dos primeiros romances.

OBRAS

- Espumas Flutuantes (1870);
- Gonzaga ou a Revolução de Minas (1875);
- A Cachoeira de Paulo Afonso (1876);
- Vozes d'África e Navio Negreiro (1880);
- Os Escravos (1883).

8 de mai. de 2009

Mãe

Imagem: Minha sobrinha Juliana e seu filhotinho, Nícolas.


... se um dia, já homem feito e realizado, sentires que a terra cede a teus pés, que tuas obras se desmoronam, que não há ninguém à tua volta para te estender a mão, esquece a tua maturidade, passa pela tua mocidade, volta à tua infância e balbucia, entre lágrimas e esperanças, as últimas palavras que sempre te restarão na alma:

" Meu pai, minha mãe..."


Rui Barbosa

4 de mai. de 2009

Pedaços

Tela de Pino

Pedaços...

Senti o amor esvaindo-se
No silêncio de uma
Saudade...

E no meu olhar,
Pedaços do coração
Molhavam-se,
Procurando abrigo
Na solidão...

(Cida Luz)

Inverno

Inverno...

Preciso do sol dentro desse
Longo inverno que é
Tua ausência...
Não me acostumo com isso de
Ser metade...
Estou pedaços,
Estou estrada sem fim...
Estou com saudade imensa
De ti...

(®Cida Luz)
04/05/09

Cida Luz


Maria Aparecida Silva da Luz nasceu em Sobradinho/DF, no ano de 1966 e escreve desde a adolescência. Mora atualmente em Taguatinga/DF, é casada e tem três filhos.

Expõe seus versos com singeleza, deixando transparecer um espírito apaixonado que certamente mostra muito de si em suas composições.

É uma poeta romântica, completa, mas não se ensoberbece disso.
Encantadora na sua simplicidade e simpatia, Cida Luz vem arrastando consigo uma multidão de fieis admiradores.

3 de mai. de 2009

Leonardo da Vinci


Leonardo da Vinci nasceu no pequeno vilarejo de Vinci, nas proximidades de Florença, em 1452. Autor de Monalisa, um dos quadros mais famosos da história, Leonardo era filho ilegítimo de um tabelião. Ele não teve educação formal e sabia pouco ou nenhum latim, condição que o enchia de um certo ressentimento em relação aos colegas mais ilustrados.


Adulto, foi uma personalidade polêmica no seu modo de vestir e no comportamento chegou a ser denunciado por prática de sodomia, mas não foi condenado. Supõe-se que ele tenha sido homossexual, mas sua intimidade permanece misteriosa.


Adolescente, foi aprendiz no ateliê de Verrocchio. Conta-se que certa vez, o mestre estava pintando um quadro sobre o batismo de Jesus Cristo e encarregou o jovem Leonardo de completar a composição com a figura de um anjo. Seu aluno fez um anjo tão perfeito que Verrocchio desistiu de pintar.


Conta-se também que Leonardo tocava, para distrair seu modelo, música composta por ele em instrumentos inventados por ele. O certo é que a Monalisa del Giocondo se tornou o quadro mais célebre da pintura ocidental. Hoje está no Louvre, como principal atração turística, numa sala em que um Rafael e um Correggio passam despercebidos.




Em 1503, Francesco del Giocondo, um rico florentino, encomendou a Leonardo - e pagou-lhe muito bem por isso - um retrato de sua mulher, Monalisa. Quatro anos depois o quadro não está pronto. Aqui começa o grande debate: quem é a dama do quadro? A mulher de Giocondo? É este o retrato de uma jovem de 26 anos? Ou é o retrato de Constança d'Avalos, Duquesa de Francavilla, "inclusive com o véu negro de viúva?" Há quem afirme - e a sério - que o encantador sorriso é de um jovem, travestido.


O grande mote do trabalho de Leonardo, quer como artista, quer como inventor e cientista, foi a observação criteriosa da natureza. Seus cadernos são um imenso laboratório de pensamento. Nas notas, estudos e rascunhos dedicados à hidráulica, ao vôo dos pássaros, ao movimento dos gatos, encontra-se um acurado explorador da natureza.


Sua inteligência mecânica ainda hoje impressiona todos os que examinam seus desenhos de engrenagens. A comparação de imagens obtidas nos modernos aparelhos de tomografia computadorizada com seus desenhos sobre anatomia oferece uma espécie de revelação: Leonardo acertou com exatidão espantosa, por exemplo, detalhes sobre a posição do feto no interior do útero.


Embora tivesse uma assombrosa habilidade matemática, diz-se que Leonardo não criou algo que se pudesse chamar de "teorema de Leonardo". Ou seja, apesar de ter desvendado princípios que até então eram desconhecidos, ele não os traduziu em linguagem matemática. É verdade. Essa viria a ser mais tarde uma obsessão dos estudiosos.


Doente, da Vinci passa o mês de abril de 1519 na cama, cercado por três quadros: a Monalisa del Giocondo; Santana, a Virgem e o Menino e o São João Batista, que provavelmente pintou em Roma como sua última obra. Morre, no dia 2 de maio de 1519, nos braços do rei Francisco I.



1 de mai. de 2009

Vídeo e Músca: Mudando o formato

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